sexta-feira, 2 de outubro de 2009

História do Canario Arlequim Portugues

A internacionalização do canário Arlequim Português levou a que as encomendas que a cada ano são feitas aos nossos criadores por ingleses, italianos, brasileiros, franceses, belgas se elevem a dezenas de casais. Nem sempre é possível dar resposta a esta grande solicitação enquanto os criadores portugueses não se decidirem pela sua criação em quantidade, aliada, claro está, à qualidade.
Todos conhecemos os grandes criadores de outras raças, entre nós. Glosteres, Yorks, Crestes, Frisados dão aos seus criadores bons lucros e, na sua maioria estes criadores não aderiram ao projecto do Arlequim Português.
Sabemos que os criadores mais destacados visam o lucro económico, sem o que a criação não é possível já que a alimentação e demais gastos são elevados. Passarão, no fim da vida, sem outro lucro do que ganharem meia dúzia de tostões, ano após ano. É pena porque constituem uma fatia importante de criadores portugueses que teimam em não querer ver que o Arlequim Português é uma realidade, que só um cego não quer ver. As dificuldades na criação destes canários terminaram. Hoje, só não dispõe de bons Arlequins quem não respeitar, nas suas selecções, as características da raça ou não souber proceder aos acasalamentos. Um dos defeitos que tenho visto é a criação de exemplares não mosaico. Uma ave sem branco, portanto sem mosaico, não é um Arlequim. Como acontece com todas as raças de canários, cada criador tem de dar origem a uma linha de criação. Quem estiver sempre à espera de comprar novos exemplares e não orientar o seu canaril de modo a dispor dos seus próprios reprodutores está condenado ao fracasso. Isto passa-se com os canários de canto Harz como com os Glosteres ou os Yorks. Em relação ao Arlequim, cada criador deve já dispor de uma selecção de reprodutores que lhe permita expor animais de boa estampa. É aceitável que existam criadores em que a sua linha se encontre mais adiantada, mais seleccionada. É por este motivo que alguns criadores ainda tiram uma percentagem de todos claros e todos escuros mais elevada que outros. Isto porque, como temos escrito e divulgado, estas aves não devem ser utilizadas para reprodução. Os reprodutores devem sempre ser escolhidos entre aves mescladas. De outro modo, o criador volta sempre ao princípio. No que me diz respeito, posso afirmar que já obtenho uma muito baixa percentagem de aves totalmente claras ou escuras, isto porque há muito tempo não as uso para reprodução. A necessidade de cada criador desenvolver a sua linha de criação é mal entendida entre nós, País que ganhou o hábito de, a cada ano, ir comprar aves ao estrangeiro o que significa que não somos capazes de manter as características de cada raça. São tristemente famosos os portugueses como compradores de aves no estrangeiro, do que os criadores dos vários países, nomeadamente de Itália, tiram bom proveito. Felizmente que esta tendência está a ser modificada. O grande perigo desta situação é que, a breve trecho, passarão os criadores portugueses a ter de comprar Arlequins em Inglaterra ou na Bélgica. Nunca é demais repetir que a selecção e acasalamento tem de ter em linha de conta o standard da raça. A atracção que estes canários exercem deve-se a vários factores entre os quais se destaca a sua rusticidade e facilidade de criação (são pais excelentes), a sonoridade do seu belo canto e a vontade constante de cantar, a sua vivacidade saltando de poleiro em poleiro além, claro está, da sua elegância e beleza de cores. Podemos dizer que não é possível apontar qualquer defeito a este canário. Não pode esquecer-se que é a raça mais jovem entre todos os canários. Como acontece com outras raças, encontra-se em apuramento, desejando-se atingir o standard que permite atribuir os 93 pontos. Também como acontece com todas as raças, este é um ideal que poucos exemplares atingem como se prova em cada exposição ou concurso em que a maioria dos pássaros expostos não passa dos 89 pontos. A busca da perfeição é trabalho dos criadores e é por isso que existem os concursos. Se todos os pássaros fossem perfeitos, não haveria competição. Felizmente, existem criadores do Arlequim que sabem o que estão a fazer, com total dedicação, mesmo com uma mística que garante o futuro deste belo canário.
De ano para ano, as visitas aos criadores do Canário Arlequim Português tornam-se mais encorajadoras. Por um lado, aumenta o seu número, por outro as linhas de criação tornam-se mais precisas, há menos aves de segunda classe, o apuramento torna-se mais estreito e segundo as normas estabelecidas.
A crise originada pelo papão da gripe das aves prejudicou a aprovação da nossa raça pela C.O.M. visto que há 2 anos que não se realiza o Campeonato do Mundo. Tudo se congrega para que o presente ano seja definitivo para a aprovação do Arlequim. Como é sabido, exige-se que uma raça passe em três anos sucessivos para que seja aprovada em definitivo. Está a Direcção do Clube a envidar todos os esforços para que a representação do Arlequim na Bélgica constitua a primeira fase, sendo a segunda em Itália e a terceira em Portugal, portanto em 2010, em Campeonatos Mundiais de anos sucessivos. É grato registar o esforço do seu Presidente, Senhor Mário Costa, que vem desenvolvendo um trabalho notável de orgânica na obtenção de objectivos, com o apoio do Vice-Presidente da C. O.M., Dr. Paulo Maia, do próprio Presidente da Federação Portuguesa de Ornitologia, Eng. Rui Viveiros, e de toda uma equipa de tradicionais criadores e entusiastas, que todos conhecemos mas que aqui não referencio para não correr o risco de omitir nomes que merecem registo. Mas a História lhes dará o mérito.
A apresentação do Arlequim no Campeonato Mundial na Bélgica está a ser preparada com o máximo cuidado. Para o efeito, são escolhidos e seleccionados exemplares de vários criadores, com características semelhantes de modo a uniformizar a amostra que seguirá para a Bélgica em
Janeiro de 2008. Assim, estarão também presentes em Regea Emilia a fim de os criadores que afluem anualmente a esta exposição entrem em contacto com os belos exemplares de Arlequim que tanto entusiasmam quem tem oportunidade de os observar. É bom notar que muitos criadores dizem que quando convidam alguém, criador ou não, para visitar as suas instalações de criação, são os Arlequins que chamam a atenção pelo variado da cor, pela vivacidade e pela alegria do conto, deixando no visitante uma nota altamente positiva sobre esta raça.
Toda a orgânica da apresentação internacional do Arlequim resulta de um trabalho meditado e perseguido, não deixando nada ao acaso. É bom lembrar
que, no Campeonato do Mundo realizado na Alemanha, o Arlequim não passou por apenas um ponto o que constituiu, sem dúvida uma vitória. Além disso, significa que muitos dos Juizes estrangeiros já entenderam que estão perante uma raça belíssima, que dá um ar de frescura e renovação à Canaricultura, que se tornou tão repetitiva, com exposições de filas de canários que aos olhos dos visitantes são iguais. O Arlequim, para além da sua própria vivacidade, apresenta uma variedade de cores que chama a atenção do visitante.
O Arlequim tem hoje um lugar destacado entre os criadores portugueses de Norte e Sul de Portugal. Serão estes que, no futuro, e quando a raça for aprovada, depois de ter vencido todas as dificuldades e mesmo a incompreensão e até hostilidade dos seus compatriotas, irão fornecer exemplares a todo o Mundo, mesmo aos tais que não souberam ultrapassar a vaidade pessoal e o despeito por nunca terem dado mais contribuição para a Ornitofilia do que importar e criar repetidamente raças já estabelecidas, esquecendo que, quando está em causa o nome de Portugal, nos devemos juntar, unindo forças em vez de tentar enfraquecer a força dos que têm ânimo e força de vontade, desde a primeira hora. O historial é bem conhecido, não vale a pena ser repetido mas é bom lembrar que foram horas de inventiva, de esperança, de frustração quando os exemplares não saíam como era pretendido, de alegria e júbilo ao ver a raça exposta pela primeira vez, ao cabo de 10 anos de secreta gestação, timidamente, apenas quatro exemplares suspensos em pequenas gaiolas, num recanto da Exposição, no Jardim Zoológico de Lisboa, a que apenas um Juiz, seja dito, teve coragem de dar o seu nome, que todos conhecemos: Jorge Mano. Como foi grato saber, depois, que muitos criadores portugueses aderiram e apoiaram o projecto. Quantas alegrias, quantas horas pensando na melhor maneira de seleccionar, outras divulgando as características junto dos criadores, quantas tentativas sem resultado, mas sem desistência perante esses pequenos insucessos. Como se procurou estabelecer judiciosamente um standard, como se elaboram os primeiros Boletins e distribuíram por todo o País, hoje verdadeiros exemplares históricos da nossa Ornitologia. Como se organizou o Clube a partir do nada, pelo simples contacto com amigos criadores. Como foi sentido com alegria e amizade (que nunca esquecerei) o companheirismo e a adesão dos criadores apoiantes e, por outro lado, como estão esquecidos os ataques dos menos esclarecidos que nem por ser uma raça portuguesa tiveram uma palavra de apoio, antes procuraram torpedear, com os olhos postos, não no futuro, mas numa visão acanhada e curta das ambições da Ornitologia portuguesa. Como se defendeu, com unhas e dentes, em Colóquios, reuniões com o Colégio Português de Juizes, como, enfim, tudo se foi realizando, pedra sobre pedra, desenhando um futuro que agora é presente. Como reli, com um júbilo bem português, artigos publicados em revistas estrangeiras e como foi seguida toda a prudência, sem alardes mas também sem falsas modéstias, para que a saída para o estrangeiro só fosse permitida após a fixação mais segura da raça. Daí a organização do Clube, apertando contra o peito os amigos criadores, os que aderiram sem inveja nem evasivas, com palavras de entusiasmo mas também, no íntimo da minha casa, agradecendo-lhes de modo surdo, apenas em espírito, a sua adesão e encorajamento. Nunca saberão o quanto lhes agradeci nesses momentos de meditação o isolamento e como continuo a agradecer. Quem visitar a sede do Clube, à Rua Ferreira Cardoso 85 – Porto, na residência do actual Presidente, pode ver nas paredes quadros ampliados das fotografias obtidas dos primeiros Arlequins, a que me prendem saudades de um tempo tão prometedor e de alegre ansiedade. Lembro esses primeiros exemplares que já nos deixaram, como se fossem pérolas da minha memória. Tais fotos, correram Mundo, foram exibidas em revistas e jornais e os protagonistas, os canários que lá figuram permanecerão na minha alma enquanto for vivo. Pertencem a um passado grato e feliz.
A nível internacional, a sua difusão é também cada vez maior, não só no que respeita à criação mas também a artigos de revistas. Esta raça vem resolver algumas questões e interrogações a que a Canaricultura de um modo geral não sabia responder, como se pode ler no artigo que vem a lume na conceituada revista belga Le Monde des Oiseaux. Com a aprovação da raça, volta-se uma página importante da Ornitocultura portuguesa.